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A adição e o contexto

  • Maria João Gonçalves
  • 28 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura

No post anterior falei sobre a neurobiologia da adição, numa tentativa de desconstruir a ideia de que usar substâncias/manter qualquer adição é uma mera questão de escolhas. As alterações que ocorrem no cérebro levam a uma dificuldade/ausência de capacidade de escolha. Porém, a adição vai muito além da neurobiologia. Nós somos seres sociais e desenvolvemo-nos num contexto e isso diz muito.


Sou fã do Doutor Gabor Mate, um especialista neste tema, e ele frisa a importância de mudarmos as nossas questões. E se em vez de perguntarmos “porque é que não paras de consumir?” perguntássemos “porque é que consomes?”. Poderíamos surpreender-nos. Muitas pessoas responderiam que ao consumirem se sentem finalmente em paz, conectadas com elas, sentem uma sensação de calor e colo que nunca sentiram nas suas vidas, sentem que são aceites, sentem-se menos elas próprias e, por isso, mais seguras, sentem menos dor, permite-lhes esquecer ou não relembrar tão ativamente traumas, mesmo que momentaneamente, mesmo sabendo a destruição que traz. Para quem está de fora, achando estar minimamente sob controlo, é fácil julgar, mas e se tirarmos um tempo para questionar o que aconteceu de tão doloroso que é preferível passar a vida a fugirmos de nós mesmos sem sair do mesmo sítio?


Percebam que não estou a tentar inventar desculpas, porque conheço os efeitos devastadores que a adição tem nas vidas de quem consome e em quem os rodeia. A verdade é que muitas vezes a adição é a consequência e a manifestação de traumas. É uma tentativa do nosso organismo se defender de um sofrimento para o qual não é suposto saber lidar, que não é natural, sobretudo quando falamos de traumas que acontecem na infância/adolescência. Não, não estou a tentar apontar dedos, não é um episódio da saga “os psicólogos arranjam sempre forma de culpar os pais”. É um episódio de “o contexto em que vivemos pesa muito, não é só a genética” e isso não pode ser esquecido. E o trauma não tem que ver com o evento em si, mas sim com a nossa reação a ele. Como diz o Dr. Mate, e se antes de nos focarmos no “porquê da adição” nos focarmos no “porquê essa dor?”


Se sentes que perdeste o controlo e que precisas de ajuda, ou se conheces alguém que beneficiaria de um espaço seguro para trabalhar traumas e outras dificuldades, acede aqui: m


~MJ ~

 
 
 

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