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A ambivalência do fim e do início.

  • Maria João Gonçalves
  • 17 de ago. de 2021
  • 3 min de leitura


Já passaram alguns meses desde que me sentei à frente deste computador para escrever para este espaço que, em tantos sentidos, representa uma libertação para mim e um espaço de reflexão sobre quem sou e sobre o mundo. Obviamente enriquecida por vocês que (me) lêem.


Os últimos meses têm sido verdadeiramente atarefados, ou pelo menos os anteriores a este que passou. É verdade, sou oficialmente Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde. Foi a última etapa deste percurso que trilho há cinco anos que me afastou daqui. No entanto, esse período foi tudo menos livre de tsunamis mentais. Tive de surfar umas valentes ondas para chegar até aqui, criadas sobretudo pela minha dissertação de mestrado e tudo o que ela incluiu. Talvez falemos deles mais para a frente se fizer sentido. Saí vitoriosa, felizmente, depois de muitas ondas, pirolitos e perdas de pé.


O último mês foi o total oposto de tudo isto. Foi o tranquilizar de um mar que estava agitado há demasiado tempo, ainda que ainda não esteja totalmente calmo. Estes cinco anos foram uma viagem desafiante, em muitos sentidos, mas teve tanto de dura como de enriquecedora. Estes momentos de calma e tranquilidade têm servido para recarregar baterias, sobretudo as mentais e as emocionais que foram levadas ao extremo.


Creio que ainda não assimilei na totalidade o facto desta fase do meu percurso ter terminado. Ainda tenho alguma dificuldade em acreditar que acabou. Aqui vem a ambivalência, como de costume. Por um lado, o alívio e o descanso, a liberdade e a paz de, finalmente, ter encerrado este capítulo e poder respirar mais folgadamente. Por outro lado, a já nostalgia e saudosismo, o medo do desconhecido e do incerto que esta nova fase que se inicia representa.


Fui estudante a minha vida toda. Sei que irei aprender e procurar aprender durante toda a minha existência, mas formalmente e, por enquanto, já não sou estudante. Isto tem tanto de bom, como de mau ou, pelo menos, de assustador. Como expliquei no início deste projeto, não sonhava ser psicóloga quando entrei para a faculdade, foi um sonho que foi crescendo em mim e que eu fui construindo passo a passo, também emaranhada em incertezas e muitas dúvidas. Paradoxalmente, sinto que nasci para isto, não necessariamente só para isto, mas pelo menos para isto sim. E, de alguma forma e por alguma razão pela qual sou muito grata, fui parar ao sítio certo. Ainda que inicialmente esse fosse, aos meus olhos e no meio do meu desconhecimento e ingenuidade, o errado. Terminar o meu curso, o meu mestrado, foi a realização de um sonho que, sorte a minha, não sonhei sozinha. Porém, acho que não nos preparam, ou pelo menos não me prepararam o suficiente, para deixar de ser estudante, para a incerteza que a perda desse estatuto e a aquisição de qualquer outro acarreta e representa.


Avizinha-se uma nova fase de descoberta. Estou mais entusiasmada do que assustada, espero que assim me mantenha. Tenho a consciência de que existirão sempre ondas, umas maiores e outras mais pequenas. O que procuro repetir para mim e que quero dizer a todos os que possam estar na mesma fase que eu, é que já passámos por momentos de grande incerteza e estamos aqui hoje, com mais ou menos mazelas, mas sem dúvida com mais conhecimento, aprendizagens e competências. Lembro-me de quem eu era quando entrei na faculdade e consigo perceber as semelhanças entre o medo que sentia naquela altura e o que sinto agora. No entanto, não é só o medo que é semelhante, é também similar o entusiasmo e a motivação. Não existe mal nenhum em sentirmos medo, por mais que não seja isto que nos é transmitido. Porém, é importante que não deixemos o medo congelar-nos ou pesar mais na balança entre a nossa vontade de fazer e o medo de arriscar.


No final do dia, todas as pessoas têm de começar por algum lado, seja na faculdade, no início de carreira ou em qualquer outra situação. Há sempre um momento inicial em que tudo nos é estranho, em que tudo em desconhecido e incerto. E esses caminhos iniciam-se sempre por dar o primeiro passo, geralmente o mais difícil, mesmo que a medo. Seja o que for, irá sempre haver espaço para aprender, para melhorar e evoluir. E estejamos agora mais ou menos preparados, iremos, espero eu, olhar para trás, para quem somos atualmente, e achar que somos muito "maus" comparativamente à nossa versão do futuro.


O meu novo caminho profissional iniciar-se-á, espero eu, brevemente, com um estágio profissional para que possa pertencer à Ordem dos Psicólogos Portugueses e praticar psicologia em Portugal. Pelo que dizem é um percurso duro e demorado. "Nos entretantos", vou surfando as ondas que surgirem, focando-me no que está dentro do meu controlo.

 
 
 

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