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A despedida de 2021, o ano do muito.

  • Maria João Gonçalves
  • 2 de jan. de 2022
  • 6 min de leitura


2021. Se tivesse de descrever brevemente o ano que passou chamá-lo-ia o ano do Muito. Foi um ano de muitas coisas, coisas boas e coisas más. Uma verdadeira montanha-russa de altos muito altos e de baixos bem lá no fundo, recheado de intensas emoções e de arrepios profundos.


Ganhei muito este ano e perdi muito também. E acho que muitos de vós sentiram o mesmo. Foi um ano de grandes conquistas. Derrotei a covid-19 no início do ano e ainda que a nível físico tenha ficado mais frágil, saí mentalmente mais forte. Lutei fortemente para terminar o meu curso, dei as minhas primeiras consultas e senti que escolhi a profissão certa, esfumando tantas dúvidas que tinha até então. Vi consultas a desenrolarem-se em frente dos meus olhos e vi vidas a mudar a cada sessão. Aprendi com terapeutas que hoje admiro como profissionais, mas sobretudo como pessoas e que farão para sempre parte de mim, sempre que entrar na sala de consulta, mas sobretudo quando sair e precisar de me lembrar de mim também. Entrei nessa sala, ora acompanhada, mas também sozinha, com o peso da responsabilidade e com o friozinho da barriga caraterístico de quem é inexperiente, mas que faz aquilo que gosta. Tive a sorte e o privilégio de ouvir as histórias de vida de pessoas que também hoje admiro e que provavelmente não irei esquecer, que me confiaram as suas fragilidades e que vi crescer e fazer por mudar em direto naquela sala, algo tão difícil, por mais que achem que não.


Foi também em 2021 que enfrentei o maior desafio da minha vida académica, a minha dissertação de mestrado. Uma verdadeira luta, que testou todas as minhas capacidades e que me fez muitas vezes questionar se não seria mais fácil desistir. A verdade é que consegui ultrapassar isso, com mais ou menos dificuldade, e finalmente terminei o meu curso. Um sonho concretizado e um objetivo cumprido com sucesso.


No entanto, não entrei só na sala de consultas como terapeuta, mas também como cliente, como alguém que precisa de ajudar para conseguir ser a sua versão mais feliz e com maior bem-estar. Foi a melhor decisão de 2021, começar o meu processo terapêutico e ter um espaço para pensar sobre mim, as minhas escolhas e o que quero para mim. Foi e continua a ser algo altamente transformador, ainda que assustador e difícil, por nos deixar despidos das nossas barreiras e nos fazer olhar-nos ao espelho com olhos de ver. Graças a isso sinto-me mais forte hoje, mais capaz e com muitas mais ferramentas para lidar com tudo aquilo que enfrento diariamente. Essa é uma das lições de 2021, pedir ajuda não será nunca um ato de fraqueza, requer coragem e força de vontade para darmos o passo de investirmos em nós. Ah, e a saúde mental importa, muito e deve ser cuidada como a saúde física!


2021 foi um ano de investimento pessoal, foi o ano em que mais investi em mim, também porque foi o ano em que passei mais tempo sozinha. Aprendi também isso, a gostar de estar sozinha e de apreciar a minha companhia, deixei de estar com os outros para evitar estar sozinha com os meus pensamentos, agora estou com eles porque quero mesmo estar lá. 2021 foi uma constante reflexão, o ano da tentativa-erro, de arriscar fazer coisas novas, conhecer novas pessoas, dizer que sim a novas experiências e dizer que não e impor limites ao que não quero por perto. Foi também o ano de trabalhar a consistência nos hábitos que me fazem feliz e que, sobretudo, me trazem uma quantidade impagável de bem-estar e que, por alguma razão, por vezes, me permitia desleixar deles. Seja o exercício físico, a leitura, o tempo com os amigos, aprender a pausar as responsabilidades académicas e profissionais. Foi também o ano de início deste espaço que me trouxe tanto de bom e me deu voz sobre tantas coisas que valorizo, obrigada por lerem os meus tsunamis mentais!


Retiro de 2021 memórias difíceis, mas retiro mais memórias felizes e recheadas de amor, rodeada das minhas pessoas favoritas. Foi um ano de muita música e concertos, jogos de tabuleiro e jantares em casa improvisados, o ano de aprender a estar presente mesmo longe fisicamente e de nos adaptarmos às circunstâncias. Todos os anos são feitos pelas pessoas que os integram e eu fico feliz por ter tantos corações bonitos que ficam de ano para ano e por ver alguns novos a acrescentarem-se à lista. Num ano tão complicado, tão atípico e tão intenso, foram as minhas pessoas que me mantiveram centrada, me ajudaram a crescer e a ultrapassar os obstáculos e que contribuíram para a construção de memórias inesquecíveis e felizes.


Não sou fã de resoluções de ano novo, não por achar que não devem ser feitas, mas pelo mindset que tantas vezes está por detrás delas. Não acho que as resoluções para 2022 devam ser copiadas e coladas do que não conseguimos fazer em 2021. Acho que se estamos tentados a fazer a “reciclagem” das resoluções de 2021 que não conseguimos cumprir, devemos antes fazer uma reflexão sobre o porquê de não as termos conseguido cumprir. Eram realistas? Concretizáveis? Eram realmente coisas que nos fazem sentido e que queremos atingir ou como é algo que toda a gente coloca na sua listinha de resoluções nós vamos atrás? Sou apologista de que qualquer momento do ano é apropriado e de que nunca é tarde demais para estabelecer novos objetivos e metas, que não é necessário esperar pelo início da semana ou do mês ou do novo ano para fazermos por melhorar e mudar. Vamos sempre a tempo de mudar e se nós não fizermos por mudar, não nos dedicarmos, não estabelecermos objetivos realistas e que realmente queremos atingir, nada irá mudar por o calendário passar de 2021 para 2022. Seja que ano, mês ou dia for, as mudanças partem de nós.


As mudanças são, grande parte das vezes, graduais, constituídas por passos mais pequenos e alguns momentos mais difíceis. Mudar hábitos, implementar novas coisas na nossa rotina, começar um novo hobbie, seja o que for, dá trabalho e nem sempre corre sempre bem. É por isso também importante que sejamos gentis na altura de traçar as nossas resoluções e/ou objetivos de ano novo, também para não começarmos o ano assoberbados de missões e coisas por cumprir de uma dimensão irrealista e utópica. Sejam sensatos nas vossas resoluções, façam-nas, se as quiserem fazer, à vossa medida, tendo em conta quem vocês são. E não se esqueçam, nem se deixem iludir, não é por termos começado um novo ano que não existirão momentos e dias maus, ou dias de preguiça e de pouca produtividade, obstáculos e dificuldades. Está tudo certo com isso, faz tudo parte, o calendário mudou à meia-noite, mas continuamos todos a ser humanos – e ainda bem! A mentalidade de “ano novo, vida nova” pode ser um bom incentivo, mas não se deixem iludir com a existência de vidas perfeitas.


Não irei fazer uma lista de resoluções para 2022, vou dar continuidade ao que iniciei no ano passado e refletir que metas quero para mim, seja para que ano for, e começar a trabalhar nelas assim que possível e assim que fizer sentido. No entanto, tenho alguns desejos para 2022, nada de novo ou diferente dos anos passados. Desejo que se invista mais na saúde mental e que se priorizem os profissionais que lutam por ela em tantos contextos diferentes. Desejo que todos possamos abraçar e expressar cada vez mais as nossas emoções, todas elas, e que nos permitamos sentir e arriscar, mesmo que o medo e a insegurança batam à porta. Que sejamos capazes de nos colocar em primeiro lugar sem receio de sermos egoístas, que cuidemos de nós como gostamos de cuidar dos outros e que sejamos capazes de dizer que sim ao que realmente queremos e dizer que não ao que nos rouba paz e saúde. Desejo que, no meio da dúvida, de desgostos, erros e desilusões, sejamos capazes de nos reinventarmos sempre, de voltar a tentar se for o medo que nos impede ou de desistir se soubermos que não é algo para nós. Ambos os cenários requerem vontade, coragem e esperança de que há algo melhor para nós.


Desejo a todos vocês um bom Ano Novo. Que 2022 seja recheado de tudo o que desejam, mas não se esqueçam que grande parte do ano será aquilo que vocês fizerem dele! A mais tsunamis mentais em 2022.


Maria João.

 
 
 

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