top of page

A síndrome do impostor

  • mariajoaocg98
  • 12 de fev. de 2022
  • 5 min de leitura

Nos últimos anos tenho ouvido falar cada vez mais da síndrome do impostor, seja por parte de especialistas ou das pessoas à minha volta. Uma pesquisa rápida permite perceber que esta "síndrome" pode ser definida como um pessimismo defensivo, sendo assim como um mecanismo de defesa. De forma bem simples, a síndrome de impostor acaba por afetar a forma como os outros nos vêem, mas principalmente, a forma como nós próprios nos vemos e às nossas conquistas. Geralmente, quem pensa sobre si como um impostor acaba por não acreditar nas evidências claras e visíveis de que é competente, tendendo a considerar-se incapaz e inferior em comparação aos outros. Muitas vezes, quem experiencia esta síndrome tem dificuldades em aceitar elogios ou reconhecimento pelas coisas que faz, geralmente num âmbito mais profissional, mas não exclusivamente. Assim, sentem que não são merecedores do sucesso que têm e atribuem esse mesmo sucesso a fatores externos desvinculados e forma do seu controlo, como por exemplo a sorte ou o destino. Isto torna-se problemático e pode gerar stress e mal-estar, porque as pessoas acabam por viver com algum medo de que os outros também os vejam como eles se sentem, uma fraude.


Esta síndrome não é considerada uma doença mental, mas antes um sentimento que muitos de nós experienciamos e que muitas vezes temos dificuldades em identificar. Qualquer pessoa pode experienciar esta síndrome, mas ela pode surgir mais frequentemente em pessoas com profissões mais competitivas e/ou sujeitas a avaliações de forma mais frequente. Pessoas com baixa autoestima e com tendência para a internalização são mais suscetíveis para vivenciar estes sentimentos.


Descrições e definições à parte, acho que grande parte de nós já experienciou, nem que seja apenas em parte, esta síndrome. Como perceberam, é algo que está muito ligado, aliás, é algo que se alimenta muito das nossas inseguranças e das nossas dúvidas.


Algo que pode despoletar esta síndrome é a saída da nossa tão querida e valorizada zona de conforto. Já falámos muito dela por aqui, não é verdade? Sair da nossa zona de conforto, seja ao nível pessoal ou profissional, pode ser realmente assustador e um grande desafio. Ausentarmo-nos da nossa zona de conforto é, como é percetível, mais ou menos, desconfortável, é sinónimo de arriscar e abrir o nosso horizonte à novidade, ao desconhecido. A realidade é que arriscar colocar o pé fora daquilo que nos é familiar traz muitas questões associadas e responder a essas questões pode tornar-se algo difícil. Questões como "será que estou 100% preparad@?", "e se falhar? Ou correr mal?", "e se não estiver à altura do desafio ou não gostar?", "e se me acharem tont@ ou inferior por não ter tanta experiência?" ou até "e se errar porque é tudo novo?".


Por que razão é que é tão difícil respondermos a estas perguntas? Primeiro, porque muitas, se não todas estas questões e outras semelhantes, não têm respostas claras e propriamente simples como um "sim" ou "não", são respostas com alguma complexidade, subjetividade e incerteza associadas. Segundo, como são questões que nos colocamos a nós mesmos, temos alguma dificuldade em pensarmo-nos de forma imparcial e, muitos de nós, temos tendência a sermos demasiado duros, exigentes e negativos quando se trata de nos "avaliarmos" ou analisarmos. Terceiro, por vezes, estas questões surgem já de um lugar de dúvida, de cognições sobre nós um pouco distorcidas, com uma base de "sou insuficiente" e poucas são as vezes em que as respostas mais positivas são aceites.


Iniciar novos projetos ou abraçar novas oportunidades pode levar a que nos sintamos uns verdadeiros impostores e isso é muito difícil de gerir. Começar do zero em alguma coisa da nossa vida é um desafio e é totalmente compreensível que queiramos dar o nosso melhor, nunca errar e que tudo corra como idealizámos desde início. É justo que tenhamos as nossas expetativas, mas também é importante que as saibamos gerir e que trabalhemos no sentido de as tornar realistas e concretizáveis, sem que sejamos excessivamente ambiciosos. Sermos novos e inexperientes no que quer que seja, seja um novo trabalho, hobbie, relação, etc, é sempre um processo de tentativa-erro. É difícil fazer as pazes com o facto de que, inevitavelmente, vamos acabar por acabar por errar. Isto assusta, sobretudo para quem tende ao perfecionismo, algo inalcançável, mas que torna esta ideia de errar ainda mais aterradora e paralisante. Por mais que custe percebermos isto, ninguém, salvo raríssimas exceções, nasce a ser incrivelmente bom em algo, há sempre uma curva de aprendizagem associada, ainda que essa curva seja diferente para cada um de nós.


Ser humano significa que vamos errar e não há nada de errado com isso. Crescimento e evolução andam de mãos dadas com a experiência. A experiência só se ganha ao tentar, ao fazer e isso traz o tão temido erro, mas é assim que aprendemos, é assim que sabemos o que não devemos fazer. Agora a questão importante é o que decidimos fazer com esse erro: podemos ignorá-lo e tornar a repeti-lo, vezes e vezes sem conta; podemos sobreanalisar esse erro e nunca mais arriscar tentar e fica congelados para sempre sem evoluir; ou podemos analisar esse erro de forma construtiva, pensar em alternativas agir na próxima situação semelhante e com base nisso aprender a lição. Atenção que sermos capazes de reconhecer os nossos erros e aprendermos com eles não significa necessariamente que eles não se tornarão a repetir, mas significa que estamos a fazer um esforço consciente para melhorar e para que eles não se repitam tão frequentemente.


A síndrome do impostor tem muito que ver com a forma como pensamos sobre nós. Todos duvidamos de nós próprios e/ou das nossas capacidades em certos momentos, mas o que é importante perceber é se essa dúvida nos consome e nos impede de avançar na nossa vida e de celebrar e abraçar o mérito que nos é devido. É óbvio que existem verdadeiros impostores, que tomam os louros e os elogios por coisas para as quais não contribuíram, mas a síndrome do impostor não é sobre essas pessoas. É sobre aquelas que trabalham e se dedicam, que conseguem atingir os seus objetivos e às quais são dadas as oportunidades pelas quais lutam, mas que acham sempre que não as merecem, que não estão à altura do desafio e que, eventualmente, todos irão ver que não são realmente merecedoras. Isto pode também relacionar-se com a ideia, por vezes, tóxica do que é ser humilde. Ser humilde não é ser submisso, não é nunca aceitar um elogio ou nunca sermos capazes de falar bem de quem somos. Todos temos defeitos, mas também todos temos qualidades. Não somos menos humildes, nem arrogantes por sermos capazes de nos auto-elogiarmos e de nos orgulharmos do nosso trabalho, forma de agir ou de ser.


Quando nos sentimos impostores ou pouco preparados para o que vamos enfrentar ou pouco merecedores das coisas boas que nos acontecem, é importante que nos analisemos, que questionemos os nossos pensamentos. Olhar à nossa volta e para o nosso passado, pensar nas coisas que fizemos bem, talvez uma lista das nossas melhores competências e caraterísticas. Perceber qual a origem das nossas dúvidas, será que realmente acreditamos que não temos capacidades ou temos medo do desconhecido? Ninguém está 100% preparado para a mudança, porque nunca sabemos com 100% certeza o que nos espera e não há nada de mal com isso. E se não tivermos as competências todas no ponto que achamos necessário? Vamos pensar se não houve outros momentos em que isso aconteceu e que conseguimos ser bem sucedidos, por exemplo a tirar a carta de condução. Inicialmente ninguém sabe realmente conduzir, pelo menos como é suposto "by the book", mas aprendemos. A disponibilidade para aprender é que é genuinamente necessária, sendo que para alguns de nós algumas coisas são mais fáceis do que outras.


Há muito mais a dizer sobre esta ideia da síndrome de impostor, mas, por agora, querid@s falsos impostores que andam por aí a acharem-se menos do que são, deixo-vos esta mensagem:

Haverá sempre espaço para melhorar e todos temos de começar por algum lado. Nunca vamos estar totalmente preparados, mas termos a vontade de agir e aprender é a melhor motivação para chegarmos onde queremos. O caminho faz-se caminhando e se nunca formos nunca vamos avançar.


Maria João.

 
 
 

Comments


  • Instagram

©2021 por Tsunamis Mentais. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page