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As conversas no silêncio

  • mariajoaocg98
  • 2 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura


Tudo é comunicação. É impossível não comunicar, é isto que nos dizem os axiomas da comunicação. Tudo é comunicação, o que dizemos e fazemos, o que não dizemos e não fazemos, o que preenchemos com berros e o que enchemos com silêncios.


Sinto que existe alguma reticência e medo no que toca aos silêncios, como se eles fossem nossos inimigos ou como se tivéssemos de os preencher de alguma forma ou a todo o custo. Numa tentativa de evitar embaraço ou constrangimento, quando muitas vezes são a resposta acertada ou mais adequada. Claro que podem existir silêncios desconfortáveis, mas nem todos o são. A beleza dos silêncios reside muitas vezes na eliminação do ruído que nasce nas nossas palavras. Por vezes, um ruído emocional, um barulho de fundo que nos distrai da leitura da linguagem não verbal do outro. Esta nossa forma de comunicação que dispensa as palavras é tantas vezes tão rica e honesta.


Nem sempre temos algo para dizer e não existe qualquer problema com isso. Por vezes, existem outros meios de comunicação que se adequam melhor a esse momento. O nosso corpo e, sobretudo, a nossa cara dizem muito por nós, talvez por estarem desprovidas do filtro demasiado rígido que impomos às nossas palavras.


Não ter nada para dizer, é já dizer muito. Seja qual for o contexto ou situação, terá certamente a sua riqueza. Os silêncios não são (só) feitos de vazio. Por vezes são preenchidos por dúvida, insegurança e ruminação. Noutras vezes, são o reflexo da nossa dificuldade de expressar por palavras, de tão poucas que por vezes elas são, aquilo que sentimos, seja amor, revolta, felicidade, entusiasmo.


Há tantos silêncios diferentes. O silêncio diz muito para quem estiver disposto a ouvi-lo. Por vezes é resposta, noutros momentos é um pedido, em algumas situações uma pausa. Pode ser também um ponto de encontro, em situações em que só conseguimos ouvir e ver o outro quando as palavras são abafadas, porque elas deixaram de estar a nosso favor ou em concordância com aquilo que realmente sentimos, pensamos e defendemos.


De alguma forma, aprendemos que quem ganha é quem ficar com a última palavra. Quantas vezes ganhámos alguma coisa por termos ficado com a última palavra numa discussão? Quantas situações poderiam ter mais pacíficas se tivéssemos recorrido ao silêncio que já sentíamos precisar? O que será mais prejudicial para as nossas relações - o silêncio ou as palavras ditas sem sentido? Se já não estamos a ouvir o que o outro nos diz, nem a pensar sobre o que dizemos, continuamos a falar para quê?


O silêncio pode significar reconforto e segurança num mundo sempre a mil. Creio que nas relações, sejam elas de que natureza forem, um bom indicador de intimidade e de estar à vontade é a capacidade para partilhar silêncios, sem constrangimentos e sem a urgência de preencher aquele momento com palavras, deixando que o silêncio exista por si.


Não censurem o silêncio.


Maria João.

 
 
 

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